terça-feira, 26 de junho de 2007

Passagem

O outono despiu minha primavera,
Que cerca e escala minha morada,
Mas ela não se fez de rogada,
Cobriu-se de violeta
E protegeu-se da invernada.
O hibisco sofreu mal súbito:
Perdeu um filho todo
Para algum inseto alado,
Mas não desistiu de nutrir
Os colibris e assanhaços
Pariu do fundo outro emaranhado;
As lágrimas-de-cristo secaram
Deixando galhos secos
Retorcidos na minha entrada,
Qual caverna escura
Sem saída e chegada,
Tesoura nestes restos de cor
E apoio aos jovens galhos de flor;
A jardineira estava cheia de mato
Esqueci que a terra é sagrada
Não desperdiçar nem mesmo um quadrado
Agora alfazema, colônia e lavanda,
Manjericão e sálvia perfumam a varanda.
O sol voltou a aquecer
O corredor da minha vida,
A luz voltou a mostrar
Outras cores esquecidas,
Sem medo que desbotem
Sem razão que não se notem
Com a coragem que se toquem.

Edman
26/06/07

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Lágrima

Enquanto vejo o sol
Descansar nas nuvens
Vem tingir de cores
Meu entardecer;
A brisa forte e fria
Vai levando a alegria
Para meu interior;
Sinos de vento
Tocam seus rebentos
Como notas de adeus
Há folhas de mortalha
Voando pelas linhas
Encaracoladas
Como os cabelos meus,
Que tentam reter
Aquela festa
Aquele beijo que não esqueci

Enquanto olho o sol
Derreter nas nuvens,
Não dá para enganar
Um coração triste
Pelo dia que se vai
Riscado pelos ventos
Lambido pelo tempo
De não querer partir;
É mais um poente
Na visão carente
De um não sei o quê;
Olhos embaçados
Mente sem destino
Ouço mais um sino
Dentro do meu ser;

Deixa eu chorar,
Até secar todo esse mistério,
Quero gritar,
Até calar todo esse silêncio,
Deixa eu cantar,
Até espantar esse ar funério,
Quero sorrir,
E afugentar essa tristeza,
Deixa eu chorar,
Até que lágrima vire um mistério,
Quero juntar
Toda essa água e me lavar.

Edman
25/06/07

quinta-feira, 21 de junho de 2007

À Lua

O sorriso do universo
Está além de um verso
Acima de nossas vistas
Escondido no horizonte
Mas de meu quarto
Onde o vidro deixa entrar
Vejo este sorriso se por
Toda essa semana
Acalmando todo drama
Transformando a fase nova
Numa crescente luz
Anunciando o solstício
Profetizando o armistício
Na abertura dos portais
Em toda essa semana
Essa luz banha meu quarto
Encharca minha cama
Acalenta minha alma
Afugenta minha tristeza
Mesmo quando, já amarela,
Vai se recolhendo nos contornos
Indefinidos dos eucaliptos
Uma réstia de esperança
Que garante a bonança
Após as tempestades do meu ser.
Bastou abrir a janela que escurecia,
Foi só tirar as vendas da angústia
Simplesmente sentar e olhar,
Para fora da janela
Para dentro de mim.

Edman
21/06/07

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Livre para olhar

 
Quando aquele olhar
Que te fisgou
Deixa de te refletir
Pára de te inibir
É tempo de solidão
De deixar pelo corrimão
Ás rédeas do coração
Que um olhar até então
Direcionou.

Quando aqueles olhos
Que te penetraram
Até o profundo do teu existir
Tornando cinzas em fogos,
Que lhe derreteram
Todo o teu desinibir;

Quando esta visão
Vira desilusão
É o inverno que se aproxima
Tempo de se recolher
Coisa de se guardar
E se conhecer
Reaprender a ver as próprias cores,
Sentir graça nas próprias dores,
Quebrar as amarras e voar
A liberdade dói
A solidão corrói
E o amor convém
Como outra estação
Com certeza é a que vem.

Edman
18/06/2007

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Aquela


É que a dor
De sentir a pontada
De uma adaga
Sem esperar
Como de repente
Do seu peito
A navalha
Viesse de dentro
Rasgando
Sem que se visse
Apenas sabendo
Que algo está para revelar
Trazendo de dentro
Ossos, músculos, nervos
Sangue e vida
Jorrando à toa
Sem rumo
Desperdiçando células,
Entornando átomos
Dos nêutrons vividos no idílio.

14/06/2007