sexta-feira, 20 de outubro de 2006

É ruço ou russo?

Talvez lá pelas tantas,
Ao redor do samovar,
Depois de algumas glasnost,
Com gelo da Sibéria,
Possa se dançar um “barishinicovi”,
Ouvir uma polca no Kremlin,
Detalhar a Perestroika,
Cutucar os yankes,
Vestir-se de marta,
Dar um abraço urso,
Trosticar sobre a dor de cabeça
De investir em futebol
Na latina América.

                        Edman Izipestovscki
20/10/2006

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Luz de vela

Na mesa,
Apenas um canto
Não está vazio
Onde um solitário prato
Fumega lembranças
Discordâncias e sorrisos;
A taça não transborda,
Apenas recorda,
Translúcida,
Os bouquets de safras
Corretas, encorpadas e faceiras;
A pálida luminosidade,
Ainda que fraca
Trêmula da vela,
Atinge a todos os lados
Sem sombra.

Edman
23/08/2006

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Ana

É prefixo, é sufixo
Ana é nome próprio,
Ana é de Leão
Não é mole não,
Segura peão,
Foge que vem rugido,
Espera que vem carinho,
Ana de caras e bocas,
De baladas e tão poucas
Tequilas ou vodkas,
Livros e estradas,
Ana não é fácil não.
02/08/2006
Edman

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Chá de sumiço

Não é por despeito,
Nem por deboche,
Que meu teclado fantoche,
Mouse e arsenais,
Não têm reproduzido sinais,
Emitido postais
E imagens que tais.

Foi a estiagem,
Que secou a fronte,
Empoeirou o monitor,
Ressecou as narinas,
Entupiu os ouvidos
E deixou o olhar avermelhado.

Bem vinda a chuva
Apesar do frio que a acompanhou,
Voltou para regar as palavras,
Descritas, discursivas e lavadas,
Saudando a volta da umidade
Que secura não é vida não.

31/07/2006
edman

segunda-feira, 12 de junho de 2006

E dia bão...

Não precisar temer,
O que de mal pode acontecer
Em se levar algumas flores,
Pétalas, cachos e cores
E sentir o sorriso no olhar
De quem ganhou a prenda,
De quem alimentou a lenda
De neste dia presentear!
Talvez chocolates, íntimas roupas,
Segundas as intenções,
Mais uma taça, algumas,
De um bom tinto,
A claridade de velas,
O instinto,
Fondue, lagosta ou fritas,
Acessórios ou acessíveis,
Dividir os olhares,
Retrucar os pudores,
Revidar as carícias,
Amar
O dia bão...

Edman 12/06/2006

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Anzol

Filete branco,
Crescente no poente,
Enfeita o início
Das noites frias
Ventos gelados
A limpar horizontes,
A sorrir novas fontes
Fisgando sentimentos
Antecipando dores
Que o inverno sempre trás.

Edman 02/06/06

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Quintal do mundo

Você lembra da goiabeira,
Você lembra do caqui,
Você lembra daquela cerca
Que nunca se partiu,
Teatro sem portão,
Marca de voador
O disco que no bairro pousou,
Caça de alienígenas,
Aulas no casarão,
Professoras, mães de alunos,
Nem sempre tão profundos,
Medalhas e blá blá blá,
Coisas pra se contar
Sem perder o nosso humor.
Você lembra da mangueira
Que nunca frutou,
Mas eu ainda sinto
Seu cheiro e sabor.
Abacateiro carregado
De taturanas,
Ameixeira com parcas
Amarelas e caroços,
Uvaias recheadas de coros,
E uma maçã que nem florir ousou.
Mas era nosso quintal,
Estrelas e balões
E o abrigo do porão.

Edman
12/05/2006, música João e Maria

sexta-feira, 31 de março de 2006

Outono tropical

Águas lavam o excesso de calor,
Águas levam o mormaço,
Mas leve é a mudança,
Imperceptível é o desembaraço;
As nuvens se encolhem,
Escorrem coloridas
No horizonte avermelhado,
É o contraste do quente dia,
Com a suave noite fria;
A claridade é compensada,
Pelas folhas enferrujadas,
Que batem no para-peito,
Aglomeram-se no leito,
Anunciando com seu som,
Trincando ao seu tom,
Gritando no compasso
Espantando as andorinhas,
Colorindo o poente,
Desenterrando os ternos,
Revelando as lãs,
Antecipando o inverno.

Edman
31/03/2006

quarta-feira, 8 de março de 2006

Hoje

Bem que tentei
Escrever alguns versos
Neste dia de março,
Mas fiquei matutando:
Para as loiras vou ter que explicar,
Para as morenas vou ter que me explicar.
As ruivas vão se fazer de indiferentes,
E as multicores, bem, com tanta matiz
Fica difícil uma rima feliz,
Então um monte de flores que é bem melhor
Que qualquer frase feita
Sob medida

Edman
08/03/2006

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Por que sofrer assim

Por que sofrer assim,
Se a fruta enjoa,
Se a água não apaga,
Se a única companhia
São os resmungos e resgardos;
Não quero mais,
Essa coisa que vem de dentro,
Que me azeda o sentimento,
Queima meus momentos,
Infla meu desejo
De saciar minha sede,
De morder minha pele
De tanta dor.
Não é apaixonite,
Eu preciso cuidar da minha gastrite...

Edman
03/02/2006