terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sentimento

Passa pela minha cabeça
Como um lampejo
Tempestade magnética
Neste oceano imenso
De idéias desconexas
De fantasias e bom senso
De viagens anorexias
Em busca do alimento
Que faça meu coração
Ancorar
Em alguma baía
Deste vasto mar
Que me cercou de tanto sal
Que não sugou todo este mal
Que me destinou como uma ilha
A olhar em volta sem esquina
A ver todo o horizonte sempre igual
Mesmo que diferente pelo sol
Mesmo que misterioso pela lua
Quero encontrar o nome desta rua
Que me leve de volta ao meu lugar

Edman
30/10/07

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Nó desatado

Será que foi encomenda
Será que foi uma contenda
Foi sob alguma tenda
Alguma cigana de venda
Jogou conchas no mapa
Leu revistas sem capa
Para faturar uma gaita
Disse pra fulana
Ela tão gata
Mas já rouca no miar
Precisa do feitiço
Se não teu homem vai voar
Será que foi nas cartas
Será que foi nas velas
Que ficaram as farpas
Que queimaram mazelas
Que juntaram fotos
Que guardaram peles
Que se fizeram fogos
Se congelaram febres
Qual foi a oferenda
Qual foi a oferta
Quem foi a experta
Que por uma prenda
Construiu falsos laços
Amarrou meus braços
Para outro afago não encontrar
Como remédio deste ponto
Vou escrever um conto
Talvez até romancear
Tirar o silêncio das cordas
Desatar os nós das cerdas
Escalar a fé nos contrafortes
Do jeito que aprendi a fazer.

Edman
24/10/07

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Som da estrada

As alpercatas puxam a resistência
Num barulho de insistência
De querer ficar no lugar
Criar raízes de brotar
Subir galhos de florir
Criar sombras de sorrir
Acalmar o calor e dormir.
O sopro do encantador
Como a brisa que toca pelos caminhos
Metal de ar pelos dedilhos
Coltrane a desfiar notas
A contar atos em gotas
Sem pano a descerrar
No palco a caminhar
E os sonhos todos a tocar.

Edman 23/10/07

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Dizer


O momento passou
E você não falou?
Vai esperar o quê?
O trem voar
A água subir
A chuva secar
A estátua sair
O que vai ser
Se naquele instante
Na cruz do caminho
Aquela questão
Fosse assim um bordão
Para outros laços criar
Para outros nós desatar
Para aquele olhar descobrir
Para aquele beijo desfrutar
Vai esperar o quê?
Diga o que sente
Não se esconda demente
Se tudo que lhe pediram
Se tua escolha a fazer
É eu te amo a dizer.

18/10/07
Edman

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Caçula

Liberdade de pássaro
Olhar mágico de hipnose
Será que toca um baixo
Será que sopra um trompete
É bom de voar
Ligeiro a nadar
Nas braçadas deste mar
Que seguras no pinçar
Das telas que há de criar
Dos jogos que há de ganhar
Garfadas de pasta a adorar
Nas coisas de ajudar
Parece não parar
É sempre bom de voar.

Para Acauã, a outra melhor poesia que já fiz
Edman 17/10/07

Voyers

Expias pelas frestas
De vários contornos
De vários rostos
De tão diferentes parecidos
Olhares sem bússola
Em meio às brumas urbanas
Rosa de ventos contidos
Nos limites de um quadro
Sem limites de olhar
Expias
Ou és vigiado
Pelas esfinges de Quixote
Moídos pela falta de tempo
Expias
Ou és expiado
Expirado já é sem tempo
De detalhar no momento
A expressão de olhar
Através do plano rebento.

Edman
17/10/07

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Seguir

O que é esta coisa de caminhar
Sempre andar para não parar
Como se fosse um tubarão
Que se afoga ao dormir
Quem pode te condenar
Se uma pausa há de te seduzir
Se parar também é sorrir
Um segundo ouvir o coração
Seguir também é retornar
Com todas as lembranças a enfrentar
Sem obrigação de algumas resolver
Sem a chatice de outras desenterrar
Seguir é parar no lugar
Na sombra que alguém já quis
Tomar um trago e planejar
O tempo que já não me fiz
O momento de algo festejar
Seguir é não cumprir planos
Se há tempos são desenganos
Que a ilusão tentou programar
Que esta coisa de caminhar
É uma pegada por vez
Deixada no chão e na tez
Sem esquecer de sonhar

Edman
16/10/07

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Colores colares

O que será que me sente
Do que será feito este ente
Doce mistério
Enigma ébrio
Como ler suas linhas
Talhadas em tatuagens
Peçonhas e pessoas
Fernando de poemas
Com rimas de solidão
Histórias de gratidão
Vontades de paixão
Parece que quer sentir
Carece de ter que partir
Para além do oceano
Do mar que lhe cobre os planos
Velas e remos de desenganos
Que as tempestades já foram mais
Que seus desejos não façam o cais
Perder-se em calmaria
Afundar sem ventania
Apenas por deixar de soprar

Edman
15/10/2007

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Lume


Será que é real
Acreditas ser banal
Mas que cor devo te olhar
Será que é verde céu
Ou azul do mar
Será que há nuvens
Será que são cardumes
Quantas asas há de ter
Quantas braçadas há de dar
Será que anoiteces
E uma lua deixas brilhar
Será que escureces
E das profundezas vem assustar
Será que irradias
Todas as cores que possa dar
Será que seus dias
É sempre um sol a trilhar

Edman
09/10/07

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Perfil

A quem me perguntar:
Quem sou eu?
Talvez queira saber
Que a resposta não vai ter,
Se por acaso não me olhar;
A quem quiser se interessar
Pelas coisas que tenho pra contar,
Precisa ter paciência,
Não tanto para me ouvir,
Talvez um pouco para me ler,
Nem precisa muita inteligência,
Basta não me interromper;
A quem quiser me sentir,
Não precisa se enfeitar,
Não carece de se educar,
Basta apenas não mentir,
Basta apenas não me faltar;
A quem quiser comigo andar,
Não quero ninguém a me seguir,
Nem preciso de alguém a me guiar,
Basta me olhar e sorrir,
Decidir lado a lado e caminhar.

Edman 03/10/07

Azul

O teu olhar
Reflete o mar
Espelho do céu
De tanto sonhar
Andar ao léu
Na tua arte de projetar
Cálculos de acertar
Brincadeiras de montar
Cidades inteiras a teus pés
Mulheres faceiras na tua fé
Cabeça na lua
Palavras de mel
Desenhando na rua
Trilhas nuas
Caminhos do teu olhar

Edman
03/10/07 Parabéns meu filho, uma das melhores poesias que eu pude contribuir

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Folhas mortas

As folhas que o vento não levou
Grudaram no chão que pisei
Assentadas pela umidade
Das lágrimas que já chorei
Mas há folhas brancas a preencher
Com pensamentos de não querer
Tanta água assim a derreter
Folhas mortas no chão que pisei
Não recolhi este lixo
Não escrevi este nicho
Talvez por meditar demais
Quem sabe relembrar o algoz
Das folhas mortas que não limpei
Das letras vivas que coloquei
Em folhas vazias que desenhei
Palavras fortes que lembrei
Para limpar folhas mortas que pisei
Novas trovas eu criei
Para enxergar folhas novas
Outras sombras nos caminhos
Novas formas de carinhos
Com espinhos sem desistir
Folhas mortas no chão a dissolver
As pegadas que um dia vou esquecer
Quando folhas novas eu escrever

Edman
02/10/07