quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Obrigado Pai

Parece que foi ontem
Que eu te magoei e desdisse
E também foi agora
Que te agradeci e felicitei
Tudo é tão rapidamente lento
Que a gente até se perde em pensamentos
Sempre acha que não mereceu
Sente que é a vítima do destino
Mas que falta de tino
Que falta de rumo
Viver de equilíbrio em cima do muro
Deixar de experimentar o fascínio das perdas
Do aprendizado das penas
E agradecer cada cena que nos chega
E festejar todas as conquistas
Cantar cada degrau vencido e alçado
Celebrar a vida a cada dia que lhe aconteça
Obrigado Pai pelo ano inesquecível
De tantos atos e fatos,
De vários choros e sorrisos
De toda vela acesa
De toda frase fresca
De toda e qualquer palavra que eu tenha dito
E das muitas que deixei de falar
Peço-te a gratuidade da cobrança
E humilde agradeço por me sentir mais forte
Por me sentir feliz...

Edman Izipetto, um ótimo 2008 a todos...
26/12/07

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Natal

Natal,
Não tem igual,
Ceia, espumante
E dia seguinte vem o mal;
Aquelas musiquinhas,
Trim Titrim titrititrim
Ho Ho Ho
Filas, engarrafamento,
Pacotes e pisca-pisca,
Parentes, malas e sacolas,
Rabanadas e sal de frutas,
Sogras juntas:
Muitas folhas de boldo,
Frutas secas, passas,
E aquele pavê
Comeu é correr
Sentar no trono
Feito Noel
Hu Hu Hu

Edman, 25/12/2007

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Túnel

Há uma ilusão de espiral
Um redemoinho nas cores
Um tufão de geometria
Vermelho forte na linha
Azul frio de rinha
Gotas de cálices doces
Tulipas de cristal e colarinho
Imagens de tv no caminho
Túnel do tempo
Roda sempre
Tic tac tic tac
Sem deixar o lugar
Faz o lugar passar
Girando na aquarela
Outras cores da amarela
Primárias flores, todas as dores
Pingos de vida no ar
Traços de pedras na tela
Paralelas de vagar
Trapézios, isósceles
Até Pitágoras para explicar
Fecho, reflexo, convexo,
No espelho da alma a corar


Edman Izipetto
18/12/07

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Entrega

O sorriso é um portal
A troca de olhares, farol,
Faíscas de incêndio no paiol,
El Niño pelos mares sem anzol,
Geleira de vulcão em convulsão,
Abrigo de uma chuva de verão,
Tempestade de raios sem trovão,
Doce, sem melado, com paixão,
Mel de salgado doce,
Céu, se nublado fosse
Todo azul tingiria de bronze,
Esta cor chocolate em transe,
Teu sabor de mulher bacante,
Teu gozo louco e frisante,
Teu grito rouco e calante,
Teu cheiro místico inebriante;
Do portal do teu sorriso cativante,
Do teu gemido raso instigante,
Quero o ditongo mais gutural
Para que tudo seja natural
Desde que um cio animal

Edman Izipetto
17/12/07

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Ci

O que meus olhos não vêem
É o que minha rima sente,
Do teu olhar de oriente,
Ao teu sorriso crescente,
Qual lua no céu do teu rosto,
Igual véu no teu colo quente;
Personagem de cacau com poente
Saiu do livro, da terra, do mosto,
Fermentada do mais fino gosto
Com a cor do desejo ardente,
Sem burca, sem tendas,
Mas talha oferendas
Com mãos que brincam a natureza
Dos frutos, das frutas, das folhas,
De toda vida latente
E pegas do sal da terra,
A toda gema que encena,
A alegria da vida da gente...

Edman Izipetto
10/12/07

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Champagne

Sensuais lágrimas de paixão
Entendeste errado minha sugestão
Aprecio acompanhamentos
Como um violão não dispensa os batuques
Como um piano um sax ou acordeon
Chantilly, creme ou leite
Adoçam o doce da carne vermelha
Que o morango vestido de purpurina
Provoca, instiga e excita
Mas pela sua própria silueta
Contornos femininos, segredos femininos,
Morango de nome masculino
Para revelar mais ainda seu exotismo
Um champagne
Do seu acre sabor
Da sua dourada cor
Completam todo o erotismo.

Edman Izipetto
07/12/07

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Rara

O que é um adorno?
Dos seus olhos o contorno
Deste profundo olhar:
Será que é hematita lunar
Será que é ônix solar;
O que é sedutor?
O rubi dos seus lábios,
Nos cantos da boca a brilhar;
Ou a fragrância de âmbar
Ao seu redor a enfeitiçar;
E na pele de alexandrita
Muda cor se é de Lua
Muda o tom se é de dia
Rodopia a água marinha
Teu signo de companhia
Transmuta a alma violeta
Em ametista convexa
E na energia diamante
Lâmina profundo cortante
Talha ouro, pedra ou cordame
Torna a vida mais brilhante

Edman Izipetto
05/12/07

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Dezembro

Entra como a Lua que mingua
É o ano que finda
Tudo fica para depois de brindar
Corre-corre de compras
Todos têm suas rondas
É um eterno festejar
Água que chove entupindo
Papéis que embrulham o cupido
Piscas de contrabando
Chuvas de luzes encobrindo
Paredes sem tintas ou fundos
Parece até que vai nevar
Mas é quente por aqui
Derrete corações enfadonhos
Distribuem nos faróis e nos ônibus
Seus trocados por um pouco de paz
Música repetitiva tocando
Música repetitiva tocando
Música repetitiva tocando
Sinos de xilofone
Lareiras de celofane
E Noel que não atende telefone...

Edman, ótimo mês de celebração para todos
03/12/07

Impedido

O apito está mudo,
O grito está surdo,
O mundo está atrás do muro
Na arena romana,
Por baixo da grama
Rola muita grana,
E os gladiadores ficaram de fora,
Estão na platéia,
Como filhos de Medeia,
A espera de uma estréia,
De um naco desta geléia,
Ou do início da 3ª guerra.
Arames cercam o jogo,
Defendem, atacam,
Ou embolam o meio de campo;
De tantas vidas pisadas,
Restos de vícios amassados,
Não há energia acumulada,
Apenas a raiva reciclada
De nossos antepassados,
O planeta murcha...
Ovos de sementes podres
Chocam olhos nobres,
Mas não deixam os cartolas pobres,
Apenas os sonhos das traves em cruz,
De gente modesta em busca de luz,
Que ganham no jogo e brindam com pus,
O gol impedido nos minutos blues.

Edman Izipetto
03/12/07

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Acerca de...

Mas num é que o Haluim já passô
Mas tem bruxa sem habilitação solta por aí
Feiticeira disfarçada, se afasta sô,
De moça altaneira, volta pro teu mundo pô,
Esguia como uma cobra, se arrasta nas tuas teias,
Venenosa como uma serpente,
Enroscada na tua vassoura
Nas tuas poções de fel
Vai cada vez mais fundo
Para o lugar onde não tem mel
Mulher veia de feltro chapéu
Tira da cartola este feito
Não há novelo tão grande no teu leito
Nem nó que minha fé não tenha desfeito
Há gente de bem e respeito
De quem eu ocupo o lado esquerdo do peito
Deste mundo e do outro, perfeito,
Que me mostram tuas patifarias
Teu desespero em feitiçarias
Que só vão queimar suas próprias iguarias
Deixe a vida seguir
Deixe o destino se cumprir
Sem interferir nos elementos
Sem confundir tuas estações
Guarde suas velas para tuas exposições
Quando a noite cair em tuas contradições.

Edman Izipetto
O Senhor é meu pastor, nada me faltará...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Agradecer

Se você lembrar
Afinal há tanta coisa por fazer
Não é tudo que pode esperar
Mas quem sabe o tempo lhe escape
Dos risquinhos do tic-tac
E você num baque
Num torcicolo involuntário
Numa câimbra pescoçal
Ou mesmo num escorregão de lamaçal
Fique de cabeça repousada
Olhando sem querer o céu
Veja a Lua cheia neste sábado
Perceba suas cores
Além da palidez de não querer enxergar
E agradeça ao Pai
Tudo o que lhe tem acontecido
Por que às vezes um tropicão
Pode fazer doer o dedão
Mas te faz esborrachar-se na Lua

Edman Izipetto, um ótimo final de semana para todos
23/11/07

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Phoenix

Ave rara
Fêmea delgada
Da floresta queimada
Da terra arrancada
Madeira mortalha
Moldura talhada
Na tela pinçada
Cinzas cinzel
Cílios pincel
Curvas de anel
Em cores de mel
Renascer por um triz
Nem platéia nem atriz
Do seu próprio showbiz
Desenhar a meretriz
Sem julgar se é feliz
Ser sua própria autora
Em teus passos a escrita
Elementos de rima e pintora
Auto-retrato da artista

Edman Izipetto
21/11/07

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Consciência

Dia de botar a mão
Dia de se dar razão
Dia de meditação
Onde vamos chegar
Se as diferenças vamos renegar...
Onde já chegamos?
Nesta mesma maneira de andar
Tornando invisível o que não agrada
Jogando no lixo o que a vista embaça
Torcendo o nariz para o cheiro da raiz
Da árvore sem galhos e sombras
Prostada nos vãos das sobras
Com o quê vamos caminhar?
Se estranhamos o manjericão lilás
Se achamos a rouxidão da manjerona fulgás
Se é apenas exótica a rosa negra
Se toda cor pode ser vermelha ou amarela
Se até a própria raça o covarde renega
Mas nesta indefinição insana
Não esqueçamos: somos todos da raça humana.

Edman Izipetto, não vivamos as diferenças, vivamos na diferença...
19/11/07

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Cinza

O dia se arrasta
Capenga e monocrômica
Na sua tonalidade cinza
Apenas amanhece
Porque mais claro parece
Apenas anoitece
Porque o dia perece
É um chumbo amarrado
Nos passos de hoje
É um grito abafado
Por cordas de aço
É um eterno refazer
Das coisas que faço
Algodões sujos
De poros infectos
Por maquiagens sem cor
Esponjas de dor
Em faces intumescidas
Enrugadas de tensão
Saudosas de tesão
Neste dia cinza temporão...

Edman
16/11/07

sábado, 10 de novembro de 2007

Auto-retrato

Ainda vejo o horizonte
Como de cima da mangueira
Que meu quintal de infância detinha
Ainda brinco no front
Com meus bonecos de trincheira
Que existiam na minha retina
Ainda converso comigo
Como se meu melhor amigo
Fossem as dúvidas que meu medo tinha
Ainda acredito em plantar
Colher sementes e espalhar
Nos jardins, nas encostas, nas pessoas
Pois tudo um dia há de brotar
Depois da chuva há de florear
Ainda paro tudo de fazer
Observar as nuvens com saber
Pintar as cores do poente é prazer
Bronzear de lua é viver
Ainda canto velhas canções
Ainda aprendo novas paixões
Ainda rimo paz e ações
Ainda bebo por prazer
A água que minha sede há de ter
Às vezes olho no espelho
E me pergunto: onde errei
Mas a criança que me espia
Que me assiste e vigia
Responde quase que de pronto
“foi onde não tentei”
Ainda acordo de mau humor
Até o primeiro gole de café
Ainda acredito num grande amor
E nisto boto muita fé

10/11/07
Edman

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Arrepio

Pode ser o melhor da festa
Pode ser no meio da siesta
Ou interromper um sonho bom
Atrapalha a estrofe certa
Deixa a gente sem jeito à beça
Faz a voz sair do tom
Como se no meio da seresta
O trovador de voz modesta
Ganhasse arroubos de um tenor
Não sei o que passa pela cabeça
Não sei o que causa este temor
Mas quando vem não interessa
Me deixa neste estado de torpor
Então não faço o que me estressa
Então não choro de suor
Deixo este arrepio passar sem pressa
Espero o coração amar sem dor

07/11/07
Edman

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Bonsai

És tão quieta
Graciosa no teu mundo
Diminuta de conforto
Mas o mundo há de sombrear
Cresces paralela
Tens a grandeza na janela
Dos teus olhos sem tramela
Que a vida há espiar
És grande na essência
Trazes na cadência
Outro ritmo a me instigar
Enfrenta o tempo
Como se ele não fora de enfrentar
Na sua beleza de mistério
Na tua cor de minério
No teu dizer pouco falar

Edman 05/11/07

Novembro

Começar a só pensar...
No mês que já se abre,
Em dia de todos os santos,
Para em seguida homenagear
Quem já deixou a roupagem
Dos sentidos, e mergulhou
Na grande viagem;
Que mês é este?
Sem estação que lhe dê parada,
Sem grandes festas,
Sem ordenança,
Apenas lembrança
Que o ano já vai acabar,
Apenas remédio
Que mês que vem,
Uma ceia há de brindar,
Muitos fogos há de incendiar.
Que mês eu vendo?
Se a primavera já finda...
É um remendo
De chuva e de pé de vento
A desfolhar e desnudar,
O verão que ameaça não esperar,
Para soprar minha nau de corsário
No mar destes anos todos
E singrar a vela de mais um aniversário
Com direito a todos os bolos...

Edman
05/11/07 Que venha a data...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Cristal

Onde representas esta fala
Tão cristalina quanto opala
Mas a tua voz me é rara
Que não pude ainda perceber
Mas olhas, debruças e concentras
Numa bolha hás de antecipar
Será que o que vês acontece
Será que antecede o que não crês
Que futuro é este que lhe espelha
Que reflexo é este que não vês
Meditas na transparência dos elementos
Respiras e acalma os sentimentos
Pois saiba que esta luz que te encaminha
São teus olhos que ainda não pude ver

Edman
01/11/07 É assim que expresso meus insights, ótimo final de semana

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sentimento

Passa pela minha cabeça
Como um lampejo
Tempestade magnética
Neste oceano imenso
De idéias desconexas
De fantasias e bom senso
De viagens anorexias
Em busca do alimento
Que faça meu coração
Ancorar
Em alguma baía
Deste vasto mar
Que me cercou de tanto sal
Que não sugou todo este mal
Que me destinou como uma ilha
A olhar em volta sem esquina
A ver todo o horizonte sempre igual
Mesmo que diferente pelo sol
Mesmo que misterioso pela lua
Quero encontrar o nome desta rua
Que me leve de volta ao meu lugar

Edman
30/10/07

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Nó desatado

Será que foi encomenda
Será que foi uma contenda
Foi sob alguma tenda
Alguma cigana de venda
Jogou conchas no mapa
Leu revistas sem capa
Para faturar uma gaita
Disse pra fulana
Ela tão gata
Mas já rouca no miar
Precisa do feitiço
Se não teu homem vai voar
Será que foi nas cartas
Será que foi nas velas
Que ficaram as farpas
Que queimaram mazelas
Que juntaram fotos
Que guardaram peles
Que se fizeram fogos
Se congelaram febres
Qual foi a oferenda
Qual foi a oferta
Quem foi a experta
Que por uma prenda
Construiu falsos laços
Amarrou meus braços
Para outro afago não encontrar
Como remédio deste ponto
Vou escrever um conto
Talvez até romancear
Tirar o silêncio das cordas
Desatar os nós das cerdas
Escalar a fé nos contrafortes
Do jeito que aprendi a fazer.

Edman
24/10/07

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Som da estrada

As alpercatas puxam a resistência
Num barulho de insistência
De querer ficar no lugar
Criar raízes de brotar
Subir galhos de florir
Criar sombras de sorrir
Acalmar o calor e dormir.
O sopro do encantador
Como a brisa que toca pelos caminhos
Metal de ar pelos dedilhos
Coltrane a desfiar notas
A contar atos em gotas
Sem pano a descerrar
No palco a caminhar
E os sonhos todos a tocar.

Edman 23/10/07

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Dizer


O momento passou
E você não falou?
Vai esperar o quê?
O trem voar
A água subir
A chuva secar
A estátua sair
O que vai ser
Se naquele instante
Na cruz do caminho
Aquela questão
Fosse assim um bordão
Para outros laços criar
Para outros nós desatar
Para aquele olhar descobrir
Para aquele beijo desfrutar
Vai esperar o quê?
Diga o que sente
Não se esconda demente
Se tudo que lhe pediram
Se tua escolha a fazer
É eu te amo a dizer.

18/10/07
Edman

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Caçula

Liberdade de pássaro
Olhar mágico de hipnose
Será que toca um baixo
Será que sopra um trompete
É bom de voar
Ligeiro a nadar
Nas braçadas deste mar
Que seguras no pinçar
Das telas que há de criar
Dos jogos que há de ganhar
Garfadas de pasta a adorar
Nas coisas de ajudar
Parece não parar
É sempre bom de voar.

Para Acauã, a outra melhor poesia que já fiz
Edman 17/10/07

Voyers

Expias pelas frestas
De vários contornos
De vários rostos
De tão diferentes parecidos
Olhares sem bússola
Em meio às brumas urbanas
Rosa de ventos contidos
Nos limites de um quadro
Sem limites de olhar
Expias
Ou és vigiado
Pelas esfinges de Quixote
Moídos pela falta de tempo
Expias
Ou és expiado
Expirado já é sem tempo
De detalhar no momento
A expressão de olhar
Através do plano rebento.

Edman
17/10/07

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Seguir

O que é esta coisa de caminhar
Sempre andar para não parar
Como se fosse um tubarão
Que se afoga ao dormir
Quem pode te condenar
Se uma pausa há de te seduzir
Se parar também é sorrir
Um segundo ouvir o coração
Seguir também é retornar
Com todas as lembranças a enfrentar
Sem obrigação de algumas resolver
Sem a chatice de outras desenterrar
Seguir é parar no lugar
Na sombra que alguém já quis
Tomar um trago e planejar
O tempo que já não me fiz
O momento de algo festejar
Seguir é não cumprir planos
Se há tempos são desenganos
Que a ilusão tentou programar
Que esta coisa de caminhar
É uma pegada por vez
Deixada no chão e na tez
Sem esquecer de sonhar

Edman
16/10/07

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Colores colares

O que será que me sente
Do que será feito este ente
Doce mistério
Enigma ébrio
Como ler suas linhas
Talhadas em tatuagens
Peçonhas e pessoas
Fernando de poemas
Com rimas de solidão
Histórias de gratidão
Vontades de paixão
Parece que quer sentir
Carece de ter que partir
Para além do oceano
Do mar que lhe cobre os planos
Velas e remos de desenganos
Que as tempestades já foram mais
Que seus desejos não façam o cais
Perder-se em calmaria
Afundar sem ventania
Apenas por deixar de soprar

Edman
15/10/2007

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Lume


Será que é real
Acreditas ser banal
Mas que cor devo te olhar
Será que é verde céu
Ou azul do mar
Será que há nuvens
Será que são cardumes
Quantas asas há de ter
Quantas braçadas há de dar
Será que anoiteces
E uma lua deixas brilhar
Será que escureces
E das profundezas vem assustar
Será que irradias
Todas as cores que possa dar
Será que seus dias
É sempre um sol a trilhar

Edman
09/10/07

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Perfil

A quem me perguntar:
Quem sou eu?
Talvez queira saber
Que a resposta não vai ter,
Se por acaso não me olhar;
A quem quiser se interessar
Pelas coisas que tenho pra contar,
Precisa ter paciência,
Não tanto para me ouvir,
Talvez um pouco para me ler,
Nem precisa muita inteligência,
Basta não me interromper;
A quem quiser me sentir,
Não precisa se enfeitar,
Não carece de se educar,
Basta apenas não mentir,
Basta apenas não me faltar;
A quem quiser comigo andar,
Não quero ninguém a me seguir,
Nem preciso de alguém a me guiar,
Basta me olhar e sorrir,
Decidir lado a lado e caminhar.

Edman 03/10/07

Azul

O teu olhar
Reflete o mar
Espelho do céu
De tanto sonhar
Andar ao léu
Na tua arte de projetar
Cálculos de acertar
Brincadeiras de montar
Cidades inteiras a teus pés
Mulheres faceiras na tua fé
Cabeça na lua
Palavras de mel
Desenhando na rua
Trilhas nuas
Caminhos do teu olhar

Edman
03/10/07 Parabéns meu filho, uma das melhores poesias que eu pude contribuir

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Folhas mortas

As folhas que o vento não levou
Grudaram no chão que pisei
Assentadas pela umidade
Das lágrimas que já chorei
Mas há folhas brancas a preencher
Com pensamentos de não querer
Tanta água assim a derreter
Folhas mortas no chão que pisei
Não recolhi este lixo
Não escrevi este nicho
Talvez por meditar demais
Quem sabe relembrar o algoz
Das folhas mortas que não limpei
Das letras vivas que coloquei
Em folhas vazias que desenhei
Palavras fortes que lembrei
Para limpar folhas mortas que pisei
Novas trovas eu criei
Para enxergar folhas novas
Outras sombras nos caminhos
Novas formas de carinhos
Com espinhos sem desistir
Folhas mortas no chão a dissolver
As pegadas que um dia vou esquecer
Quando folhas novas eu escrever

Edman
02/10/07

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Quantas Luas

Era Lua cheia
Quando eu não via nada
Minha alma
Era cheia de mágoa
Salpicada de pólvora
Sem nenhuma combustão
Era Lua cheia
Quando eu não sentia nada
Minhas mãos
Eram duras e pesadas
Sem linhas ou calos
Sem nenhuma profissão
Era Lua cheia
Quando eu farejava o nada
Sem essência ou perfume
Nem um rastro exalava
Era um cheiro de nada
No vácuo da percepção
Era Lua cheia
Quando minha boca azia em brasa
E os sabores da minha casa
Nem tempero ou solução
De Modena ou apimentada
Balsâmica ou batizada
Davam gosto ou digestão
Hoje a Lua é cheia,
Minguante, Nova ou Crescente
Todas no seu presente
Têm sua contribuição
Toda a vida é cheia
De sabores e tatos
De linhas e fatos
De olhares e falas
De odores e falhas
De acertos e motivos
De manias e cultivos
De amores fugitivos
De amores produtivos
Toda a vida é cheia
Toda a vida é
Toda vida é uma lua cheia
Que cresceu e vai minguar
Até a nova lua vingar

Edman  27/09/07
Ótima luas para todos...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Jardim

As folhas roxas da bouganville
Já estão pontuando o emaranhado
De galhos e espinhos pelados
Que balançam no meu cercado
O Manacá de perfume acentuado
Apresenta três cores de copas
O lilás de flores novas
O rosa da juventude
E o branco da atitude
Os camarões já foram refogados
Estão amarelos de sol
Sobras de amor-perfeito
Ainda teimam a florir na janela
Da cozinha de jantares perfeitos
Onde até a lavanda
Coloca suas lanternas coloridas
Do hibisco brotam vestidos rubros
De ciganas a encantar
Os colibris e sabiás
E do hibisco importado
Um diplomata educado
Taças de champagne
Já se desmancham no ar
A imperial palmeira
Veste-se de novas plumas
Bate palmas para as brumas
Como se fosse rezar
E um pequeno espinhudo
Apesar das pedras e de tudo
Lança gotas tintas de perfume.

Edman, nunca uma primavera foi tão bem vinda como esta, ótima estação para todos
20/09/07

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Decisão

Eu vou seguir minha jornada,
Não importa qual porta foi fechada,
Nem se há alguém a me espiar;
Já é passado o tempo da espera,
É tarde, estou indo, é primavera,
Você pode ficar e esquiar...
Nesta geleira que virou o seu amar,
Nesta dureza de carinho que te basta,
Na confusão do teu caminho a tomar,
Na claridade enganadora que te castra,
Sem proteção você vai cegar;
Eu vou colher as flores que plantei,
Não vou escolher cores que não têm,
O perfume que me traga,
O cheiro que me agrada,
Feliz assim por me realizar,
Completo assim por me amar,
E colher mais sementes,
Espalhar mais contente,
Novas flores para o tempo que virá.

Edman 11/09/07

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Vento Sul

Há um toque de saudade
Em todo lugar que vejo
Não sei se é maldade
Desconheço este ensejo;
Melancólica forma de viver
Abrir os olhos sem querer
Dormir sem vontade de apagar
Acordar sem ânimo de despertar;
Um frio arrepia minhas costas
Por um instante lembro do prazer
Do carinho que qualquer um gosta
Mas é apenas tão rápido
Mal e poucamente depressa
Transforma-se em compressa
Para uma nova dor a aparecer
E rego minha face
A miopia não mais me embaça
Do que as rebatidas do meu coração
Bombeando imagens para a cabeça
Pensamentos de pó e desavença
Num funil de furacão
Que misturam boas idéias
Com momentos de tensão
Deixam meu lirismo tenso
Deixam minha libido sem tesão
Não sei que saudade é essa
Que não me traz boa recordação
Será que era o amor que tinha
Ou amor é mesmo uma ilusão.

Edman 06/09/07

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Pré-mavera

Ainda há frio
Ainda há falta de calor
Amanhece sombrio
Anoitece é terror
E o dia se arrasta,
Não cumpre sua jornada
Tal qual dormir na calçada
Sem que a vida lhe expie
E pare para lhe dar uma olhada
Deixar uma moeda de atenção
Num chapéu vazio de mágicas
Será que é virar o dia,
Talvez na próxima sexta
Semana começa a magia,
O mês vai mudar a agonia
Eu mesmo vou achar a sintonia
Para não me fazer de besta,
A nova estação que não chega
Então não vou aguardar
Sigo nos meus próprios trilhos
Até aquela flor encontrar

Edman, adeus agosto, seja bem vinda a colorida setembro
31/08/07

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Um sorriso

Leve distração dos músculos da face,
Um descuido dos lábios
Uma curiosidade dos dentes
Fresta de segredos de um rosto rígido
Manifestação espontânea de um sentido
Lente periscópica do coração;
Quando presente está,
Verdade há de mostrar
Que existe alegria no ar
Mas quando contido
Até mesmo leve escondido
Motivos há de o guardar. 

Edman, 29/08/07

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Amor, simplesmente paixão

Eu quero elevação
No olho do furacão
Voar girando sem rodar
Andar em círculos sem voltar
Sentir na boca o adocicado
Todo o mel do teu contato
Absorver o teu suor
Salgar minha língua de prazer
Aspirar todo teu cheiro ao redor
E deixar meu desejo derreter
Todas as amarras que eu quiser
Liberar minha garganta aos gemidos
Entregar meu corpo perdido
Até que o esforço sentido
Termine em castos sorrisos.

Edman, ótima terça-feira para todos
28/08/07

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Lâmina

O fio da esperança
Corta mais
Que a espada do samurai
Delicadamente dilacera
O que o deixa para trás.
O fio da esperança
É a navalha
Que passeia pela pele
Arrancando o que há demais
Mas se algum soluço
Mas se por ventura
Um vacilo ou sumiço
Perturbar o arado
Uma ferida aberta
Vira sangue jorrado.
O fio da esperança
É um bisturi
A cirurgiar
Nossos sentimentos
Expondo nossos medos
De um coração partir.

Edman 24/08/07

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Então me trague, sem pressa...



Um berimbau
Para eu pontuar meus passos,
Para eu deliciar meus passos,
Para eu defender meus rastros,
Para eu amaciar meus cascos
Para eu espantar "ozoiados";
Então me trague, sem pressa,
Um cheiro
Da mistura branco-doce do coco
Com o amarelo-real do dendê
E o vermelho-sensual da ardida
Que deixe a boca perdida
Na busca de não sei o quê;
Então me trague, sem pressa...
Colares do Modelo,
Cocares de meter medo,
Correntes de prata,
Figas de lata,
Mandingas e patuás
Com sotaques e saravas;
Então me trague, num sabe,
Um tabuleiro
Que me mostre mais que um coqueiro,
Que me deguste mais que um acarajé,
Que me rode a não mais poder dar fé,
Que me tire o defeito de ser ligeiro
Nas coisas que o tempo deve dar pé;
Então me trague, na rede,
Todo o tom dos Caymmi,
Todo o cacau em leite,
Todos os Orixás,
Que é para eu não ter ciúme,
De toda aquela gente
Que sabe olhar para o mar.
Então, num sabe, me trague...

Edman 21/08/07

Grande Amor

Quando completa
Sem anexar
Quando preenche
            Sem estourar
Quando te abraça
Sem apertar
Quando protege
Sem prender
Quando distante
Sem perder
Quando presente
Sem lembrar
Quando o futuro
É o que virá
Quando te liga
Sem cobrar
Quando se liga
Em te ninar
Quando na mira
Sem atirar
Quando na rua
É só teu olhar
Quando na cama
É sem pudor
Quando te beija
É só furor
Quando deseja
É grande o amor.

Edman 21/08/07

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Dia Azul

A Terra é anil
Não é tingida do vil
Desejo humano de pintar
Para encobrir a própria opacidade.
Azul que acalma
Que é a cor da alma
De quem protege e desarma
De quem leva a vida blue.
O dia azul
Não é qualquer dia qualquer
Acima de toda a fuligem
Acima de toda idéia ruim
Apesar de tantas cabeças assim
É azul o dia enfim
Para quem olha e não vê o fim
Para quem enxerga
Mesmo que não tão longe assim
Pois é a cor do sentimento
Todas as cores do momento
Da chama, do amor, do tormento
Do beijo, do adeus, do lamento,
Do encontro do Sol no firmamento
Do amanhecer da nova escuridão,
Da noite que vai passar
E trazer outra cor
E alcançar outro mar
Até um porto que toque blues.

Edman 16/08/07

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O som do silêncio

A brancura da neblina
Encerrou minha visão,
Silenciou minha audição;
Não pude ouvir os vizinhos,
Não pude notar os caminhos,
Mas não perdi minha razão.
Olhos que não vêem,
Mas sensibilidade de enxergar,
Ouvidos de não escutar,
Mas percepção de se guiar,
Qual morcego pelas lascas
Das cavernas da vida,
Sem se machucar.
Meu coração continua a pulsar,
Mais alto agora
Que me permiti lhe soltar;
Ele é minha bússola,
Nestes mares brancos
De falsa calmaria,
Nestas águas rasas
De duvidosa transparência.
É meu leme,
É meu lema.

Edman 15/08/07

Ressaca

O primeiro pássaro saúda o dia
Antes mesmo dele amanhecer
Folhas úmidas caídas de sono
São varridas pela brisa
Que penetra pelas lãs
E faz adormecer
A vontade de ficar sem conhecer
O que o novo dia traz.
Os motores já passam
Poluindo minha vidraça
Estremecendo minha preguiça
Limpando a cera da indiferença
Arejando os pulmões da mordaça
Preparando o fígado para a cachaça
Antes mesmo do dia acontecer.
E qualquer grão que cai
É um bloco de concreto que vai
Bater dentro da cabeça encharcada
E qualquer palavra que se esvai
Vai doer no coração seco de raiva
Da dor de não sentir tanto amor.

Edman 15/08/07

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Pai

Você foi me ver,
Eu nem sabia o que ia ser,
Com medo de abrir os olhos
E tudo escurecer;
Você não me gerou
Mas trago as suas gerações
Entalhadas nos meus nervos;
Não saí de suas entranhas
Mas delas faço minhas manhas,
Delas enlaço meu destino;
Não suguei teu peito
Mas tua fronte impôs respeito
Para encontrar um sentido;
Não me alimentei do teu sangue
Mas dele herdei toda a vida
Que me põe sempre adiante;
Eu senti o teu colo, diferente,
Como de proteção, imponente,
Me arranhei na tua face,
Fui erguido por tua força,
Desapareci nas tuas mãos
Para seguir além do teu caminho.

Edman 09/08/2007

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Calendário

Um dia,
Levanto sem querer,
Ou deitei sem saber,
Abro os olhos,
Ainda é escuro,
Mesmo que seja amanhã
Os sons vêm da noite;
Um dia
Sigo a rotina,
De navegar pela quilha,
De atrasar a partilha,
De me encharcar de prazer;
Um dia
Deixo a retina,
Me ocultar toda a sina,
Me ocupar toda a cisma,
De caminhar sem perder
O dia;
Nada é mais vivo que um dia,
Nada é mais certo que este dia,
Que já não dá mais pra mudar;
Um dia
Vou esquecer todos os dias,
Que já deixei pelas pias,
Que já voaram como pipas,
Sem que marcassem você,
Um dia
Nada e somente este dia,
Vou tirar e vestir fantasias,
Vou dançar e chorar alegrias,
Para viver um de cada vez.

Edman 02/08/07