quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Quantas Luas

Era Lua cheia
Quando eu não via nada
Minha alma
Era cheia de mágoa
Salpicada de pólvora
Sem nenhuma combustão
Era Lua cheia
Quando eu não sentia nada
Minhas mãos
Eram duras e pesadas
Sem linhas ou calos
Sem nenhuma profissão
Era Lua cheia
Quando eu farejava o nada
Sem essência ou perfume
Nem um rastro exalava
Era um cheiro de nada
No vácuo da percepção
Era Lua cheia
Quando minha boca azia em brasa
E os sabores da minha casa
Nem tempero ou solução
De Modena ou apimentada
Balsâmica ou batizada
Davam gosto ou digestão
Hoje a Lua é cheia,
Minguante, Nova ou Crescente
Todas no seu presente
Têm sua contribuição
Toda a vida é cheia
De sabores e tatos
De linhas e fatos
De olhares e falas
De odores e falhas
De acertos e motivos
De manias e cultivos
De amores fugitivos
De amores produtivos
Toda a vida é cheia
Toda a vida é
Toda vida é uma lua cheia
Que cresceu e vai minguar
Até a nova lua vingar

Edman  27/09/07
Ótima luas para todos...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Jardim

As folhas roxas da bouganville
Já estão pontuando o emaranhado
De galhos e espinhos pelados
Que balançam no meu cercado
O Manacá de perfume acentuado
Apresenta três cores de copas
O lilás de flores novas
O rosa da juventude
E o branco da atitude
Os camarões já foram refogados
Estão amarelos de sol
Sobras de amor-perfeito
Ainda teimam a florir na janela
Da cozinha de jantares perfeitos
Onde até a lavanda
Coloca suas lanternas coloridas
Do hibisco brotam vestidos rubros
De ciganas a encantar
Os colibris e sabiás
E do hibisco importado
Um diplomata educado
Taças de champagne
Já se desmancham no ar
A imperial palmeira
Veste-se de novas plumas
Bate palmas para as brumas
Como se fosse rezar
E um pequeno espinhudo
Apesar das pedras e de tudo
Lança gotas tintas de perfume.

Edman, nunca uma primavera foi tão bem vinda como esta, ótima estação para todos
20/09/07

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Decisão

Eu vou seguir minha jornada,
Não importa qual porta foi fechada,
Nem se há alguém a me espiar;
Já é passado o tempo da espera,
É tarde, estou indo, é primavera,
Você pode ficar e esquiar...
Nesta geleira que virou o seu amar,
Nesta dureza de carinho que te basta,
Na confusão do teu caminho a tomar,
Na claridade enganadora que te castra,
Sem proteção você vai cegar;
Eu vou colher as flores que plantei,
Não vou escolher cores que não têm,
O perfume que me traga,
O cheiro que me agrada,
Feliz assim por me realizar,
Completo assim por me amar,
E colher mais sementes,
Espalhar mais contente,
Novas flores para o tempo que virá.

Edman 11/09/07

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Vento Sul

Há um toque de saudade
Em todo lugar que vejo
Não sei se é maldade
Desconheço este ensejo;
Melancólica forma de viver
Abrir os olhos sem querer
Dormir sem vontade de apagar
Acordar sem ânimo de despertar;
Um frio arrepia minhas costas
Por um instante lembro do prazer
Do carinho que qualquer um gosta
Mas é apenas tão rápido
Mal e poucamente depressa
Transforma-se em compressa
Para uma nova dor a aparecer
E rego minha face
A miopia não mais me embaça
Do que as rebatidas do meu coração
Bombeando imagens para a cabeça
Pensamentos de pó e desavença
Num funil de furacão
Que misturam boas idéias
Com momentos de tensão
Deixam meu lirismo tenso
Deixam minha libido sem tesão
Não sei que saudade é essa
Que não me traz boa recordação
Será que era o amor que tinha
Ou amor é mesmo uma ilusão.

Edman 06/09/07