sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Pré-mavera

Ainda há frio
Ainda há falta de calor
Amanhece sombrio
Anoitece é terror
E o dia se arrasta,
Não cumpre sua jornada
Tal qual dormir na calçada
Sem que a vida lhe expie
E pare para lhe dar uma olhada
Deixar uma moeda de atenção
Num chapéu vazio de mágicas
Será que é virar o dia,
Talvez na próxima sexta
Semana começa a magia,
O mês vai mudar a agonia
Eu mesmo vou achar a sintonia
Para não me fazer de besta,
A nova estação que não chega
Então não vou aguardar
Sigo nos meus próprios trilhos
Até aquela flor encontrar

Edman, adeus agosto, seja bem vinda a colorida setembro
31/08/07

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Um sorriso

Leve distração dos músculos da face,
Um descuido dos lábios
Uma curiosidade dos dentes
Fresta de segredos de um rosto rígido
Manifestação espontânea de um sentido
Lente periscópica do coração;
Quando presente está,
Verdade há de mostrar
Que existe alegria no ar
Mas quando contido
Até mesmo leve escondido
Motivos há de o guardar. 

Edman, 29/08/07

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Amor, simplesmente paixão

Eu quero elevação
No olho do furacão
Voar girando sem rodar
Andar em círculos sem voltar
Sentir na boca o adocicado
Todo o mel do teu contato
Absorver o teu suor
Salgar minha língua de prazer
Aspirar todo teu cheiro ao redor
E deixar meu desejo derreter
Todas as amarras que eu quiser
Liberar minha garganta aos gemidos
Entregar meu corpo perdido
Até que o esforço sentido
Termine em castos sorrisos.

Edman, ótima terça-feira para todos
28/08/07

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Lâmina

O fio da esperança
Corta mais
Que a espada do samurai
Delicadamente dilacera
O que o deixa para trás.
O fio da esperança
É a navalha
Que passeia pela pele
Arrancando o que há demais
Mas se algum soluço
Mas se por ventura
Um vacilo ou sumiço
Perturbar o arado
Uma ferida aberta
Vira sangue jorrado.
O fio da esperança
É um bisturi
A cirurgiar
Nossos sentimentos
Expondo nossos medos
De um coração partir.

Edman 24/08/07

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Então me trague, sem pressa...



Um berimbau
Para eu pontuar meus passos,
Para eu deliciar meus passos,
Para eu defender meus rastros,
Para eu amaciar meus cascos
Para eu espantar "ozoiados";
Então me trague, sem pressa,
Um cheiro
Da mistura branco-doce do coco
Com o amarelo-real do dendê
E o vermelho-sensual da ardida
Que deixe a boca perdida
Na busca de não sei o quê;
Então me trague, sem pressa...
Colares do Modelo,
Cocares de meter medo,
Correntes de prata,
Figas de lata,
Mandingas e patuás
Com sotaques e saravas;
Então me trague, num sabe,
Um tabuleiro
Que me mostre mais que um coqueiro,
Que me deguste mais que um acarajé,
Que me rode a não mais poder dar fé,
Que me tire o defeito de ser ligeiro
Nas coisas que o tempo deve dar pé;
Então me trague, na rede,
Todo o tom dos Caymmi,
Todo o cacau em leite,
Todos os Orixás,
Que é para eu não ter ciúme,
De toda aquela gente
Que sabe olhar para o mar.
Então, num sabe, me trague...

Edman 21/08/07

Grande Amor

Quando completa
Sem anexar
Quando preenche
            Sem estourar
Quando te abraça
Sem apertar
Quando protege
Sem prender
Quando distante
Sem perder
Quando presente
Sem lembrar
Quando o futuro
É o que virá
Quando te liga
Sem cobrar
Quando se liga
Em te ninar
Quando na mira
Sem atirar
Quando na rua
É só teu olhar
Quando na cama
É sem pudor
Quando te beija
É só furor
Quando deseja
É grande o amor.

Edman 21/08/07

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Dia Azul

A Terra é anil
Não é tingida do vil
Desejo humano de pintar
Para encobrir a própria opacidade.
Azul que acalma
Que é a cor da alma
De quem protege e desarma
De quem leva a vida blue.
O dia azul
Não é qualquer dia qualquer
Acima de toda a fuligem
Acima de toda idéia ruim
Apesar de tantas cabeças assim
É azul o dia enfim
Para quem olha e não vê o fim
Para quem enxerga
Mesmo que não tão longe assim
Pois é a cor do sentimento
Todas as cores do momento
Da chama, do amor, do tormento
Do beijo, do adeus, do lamento,
Do encontro do Sol no firmamento
Do amanhecer da nova escuridão,
Da noite que vai passar
E trazer outra cor
E alcançar outro mar
Até um porto que toque blues.

Edman 16/08/07

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O som do silêncio

A brancura da neblina
Encerrou minha visão,
Silenciou minha audição;
Não pude ouvir os vizinhos,
Não pude notar os caminhos,
Mas não perdi minha razão.
Olhos que não vêem,
Mas sensibilidade de enxergar,
Ouvidos de não escutar,
Mas percepção de se guiar,
Qual morcego pelas lascas
Das cavernas da vida,
Sem se machucar.
Meu coração continua a pulsar,
Mais alto agora
Que me permiti lhe soltar;
Ele é minha bússola,
Nestes mares brancos
De falsa calmaria,
Nestas águas rasas
De duvidosa transparência.
É meu leme,
É meu lema.

Edman 15/08/07

Ressaca

O primeiro pássaro saúda o dia
Antes mesmo dele amanhecer
Folhas úmidas caídas de sono
São varridas pela brisa
Que penetra pelas lãs
E faz adormecer
A vontade de ficar sem conhecer
O que o novo dia traz.
Os motores já passam
Poluindo minha vidraça
Estremecendo minha preguiça
Limpando a cera da indiferença
Arejando os pulmões da mordaça
Preparando o fígado para a cachaça
Antes mesmo do dia acontecer.
E qualquer grão que cai
É um bloco de concreto que vai
Bater dentro da cabeça encharcada
E qualquer palavra que se esvai
Vai doer no coração seco de raiva
Da dor de não sentir tanto amor.

Edman 15/08/07

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Pai

Você foi me ver,
Eu nem sabia o que ia ser,
Com medo de abrir os olhos
E tudo escurecer;
Você não me gerou
Mas trago as suas gerações
Entalhadas nos meus nervos;
Não saí de suas entranhas
Mas delas faço minhas manhas,
Delas enlaço meu destino;
Não suguei teu peito
Mas tua fronte impôs respeito
Para encontrar um sentido;
Não me alimentei do teu sangue
Mas dele herdei toda a vida
Que me põe sempre adiante;
Eu senti o teu colo, diferente,
Como de proteção, imponente,
Me arranhei na tua face,
Fui erguido por tua força,
Desapareci nas tuas mãos
Para seguir além do teu caminho.

Edman 09/08/2007

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Calendário

Um dia,
Levanto sem querer,
Ou deitei sem saber,
Abro os olhos,
Ainda é escuro,
Mesmo que seja amanhã
Os sons vêm da noite;
Um dia
Sigo a rotina,
De navegar pela quilha,
De atrasar a partilha,
De me encharcar de prazer;
Um dia
Deixo a retina,
Me ocultar toda a sina,
Me ocupar toda a cisma,
De caminhar sem perder
O dia;
Nada é mais vivo que um dia,
Nada é mais certo que este dia,
Que já não dá mais pra mudar;
Um dia
Vou esquecer todos os dias,
Que já deixei pelas pias,
Que já voaram como pipas,
Sem que marcassem você,
Um dia
Nada e somente este dia,
Vou tirar e vestir fantasias,
Vou dançar e chorar alegrias,
Para viver um de cada vez.

Edman 02/08/07