quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Acerca de...

Mas num é que o Haluim já passô
Mas tem bruxa sem habilitação solta por aí
Feiticeira disfarçada, se afasta sô,
De moça altaneira, volta pro teu mundo pô,
Esguia como uma cobra, se arrasta nas tuas teias,
Venenosa como uma serpente,
Enroscada na tua vassoura
Nas tuas poções de fel
Vai cada vez mais fundo
Para o lugar onde não tem mel
Mulher veia de feltro chapéu
Tira da cartola este feito
Não há novelo tão grande no teu leito
Nem nó que minha fé não tenha desfeito
Há gente de bem e respeito
De quem eu ocupo o lado esquerdo do peito
Deste mundo e do outro, perfeito,
Que me mostram tuas patifarias
Teu desespero em feitiçarias
Que só vão queimar suas próprias iguarias
Deixe a vida seguir
Deixe o destino se cumprir
Sem interferir nos elementos
Sem confundir tuas estações
Guarde suas velas para tuas exposições
Quando a noite cair em tuas contradições.

Edman Izipetto
O Senhor é meu pastor, nada me faltará...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Agradecer

Se você lembrar
Afinal há tanta coisa por fazer
Não é tudo que pode esperar
Mas quem sabe o tempo lhe escape
Dos risquinhos do tic-tac
E você num baque
Num torcicolo involuntário
Numa câimbra pescoçal
Ou mesmo num escorregão de lamaçal
Fique de cabeça repousada
Olhando sem querer o céu
Veja a Lua cheia neste sábado
Perceba suas cores
Além da palidez de não querer enxergar
E agradeça ao Pai
Tudo o que lhe tem acontecido
Por que às vezes um tropicão
Pode fazer doer o dedão
Mas te faz esborrachar-se na Lua

Edman Izipetto, um ótimo final de semana para todos
23/11/07

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Phoenix

Ave rara
Fêmea delgada
Da floresta queimada
Da terra arrancada
Madeira mortalha
Moldura talhada
Na tela pinçada
Cinzas cinzel
Cílios pincel
Curvas de anel
Em cores de mel
Renascer por um triz
Nem platéia nem atriz
Do seu próprio showbiz
Desenhar a meretriz
Sem julgar se é feliz
Ser sua própria autora
Em teus passos a escrita
Elementos de rima e pintora
Auto-retrato da artista

Edman Izipetto
21/11/07

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Consciência

Dia de botar a mão
Dia de se dar razão
Dia de meditação
Onde vamos chegar
Se as diferenças vamos renegar...
Onde já chegamos?
Nesta mesma maneira de andar
Tornando invisível o que não agrada
Jogando no lixo o que a vista embaça
Torcendo o nariz para o cheiro da raiz
Da árvore sem galhos e sombras
Prostada nos vãos das sobras
Com o quê vamos caminhar?
Se estranhamos o manjericão lilás
Se achamos a rouxidão da manjerona fulgás
Se é apenas exótica a rosa negra
Se toda cor pode ser vermelha ou amarela
Se até a própria raça o covarde renega
Mas nesta indefinição insana
Não esqueçamos: somos todos da raça humana.

Edman Izipetto, não vivamos as diferenças, vivamos na diferença...
19/11/07

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Cinza

O dia se arrasta
Capenga e monocrômica
Na sua tonalidade cinza
Apenas amanhece
Porque mais claro parece
Apenas anoitece
Porque o dia perece
É um chumbo amarrado
Nos passos de hoje
É um grito abafado
Por cordas de aço
É um eterno refazer
Das coisas que faço
Algodões sujos
De poros infectos
Por maquiagens sem cor
Esponjas de dor
Em faces intumescidas
Enrugadas de tensão
Saudosas de tesão
Neste dia cinza temporão...

Edman
16/11/07

sábado, 10 de novembro de 2007

Auto-retrato

Ainda vejo o horizonte
Como de cima da mangueira
Que meu quintal de infância detinha
Ainda brinco no front
Com meus bonecos de trincheira
Que existiam na minha retina
Ainda converso comigo
Como se meu melhor amigo
Fossem as dúvidas que meu medo tinha
Ainda acredito em plantar
Colher sementes e espalhar
Nos jardins, nas encostas, nas pessoas
Pois tudo um dia há de brotar
Depois da chuva há de florear
Ainda paro tudo de fazer
Observar as nuvens com saber
Pintar as cores do poente é prazer
Bronzear de lua é viver
Ainda canto velhas canções
Ainda aprendo novas paixões
Ainda rimo paz e ações
Ainda bebo por prazer
A água que minha sede há de ter
Às vezes olho no espelho
E me pergunto: onde errei
Mas a criança que me espia
Que me assiste e vigia
Responde quase que de pronto
“foi onde não tentei”
Ainda acordo de mau humor
Até o primeiro gole de café
Ainda acredito num grande amor
E nisto boto muita fé

10/11/07
Edman

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Arrepio

Pode ser o melhor da festa
Pode ser no meio da siesta
Ou interromper um sonho bom
Atrapalha a estrofe certa
Deixa a gente sem jeito à beça
Faz a voz sair do tom
Como se no meio da seresta
O trovador de voz modesta
Ganhasse arroubos de um tenor
Não sei o que passa pela cabeça
Não sei o que causa este temor
Mas quando vem não interessa
Me deixa neste estado de torpor
Então não faço o que me estressa
Então não choro de suor
Deixo este arrepio passar sem pressa
Espero o coração amar sem dor

07/11/07
Edman

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Bonsai

És tão quieta
Graciosa no teu mundo
Diminuta de conforto
Mas o mundo há de sombrear
Cresces paralela
Tens a grandeza na janela
Dos teus olhos sem tramela
Que a vida há espiar
És grande na essência
Trazes na cadência
Outro ritmo a me instigar
Enfrenta o tempo
Como se ele não fora de enfrentar
Na sua beleza de mistério
Na tua cor de minério
No teu dizer pouco falar

Edman 05/11/07

Novembro

Começar a só pensar...
No mês que já se abre,
Em dia de todos os santos,
Para em seguida homenagear
Quem já deixou a roupagem
Dos sentidos, e mergulhou
Na grande viagem;
Que mês é este?
Sem estação que lhe dê parada,
Sem grandes festas,
Sem ordenança,
Apenas lembrança
Que o ano já vai acabar,
Apenas remédio
Que mês que vem,
Uma ceia há de brindar,
Muitos fogos há de incendiar.
Que mês eu vendo?
Se a primavera já finda...
É um remendo
De chuva e de pé de vento
A desfolhar e desnudar,
O verão que ameaça não esperar,
Para soprar minha nau de corsário
No mar destes anos todos
E singrar a vela de mais um aniversário
Com direito a todos os bolos...

Edman
05/11/07 Que venha a data...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Cristal

Onde representas esta fala
Tão cristalina quanto opala
Mas a tua voz me é rara
Que não pude ainda perceber
Mas olhas, debruças e concentras
Numa bolha hás de antecipar
Será que o que vês acontece
Será que antecede o que não crês
Que futuro é este que lhe espelha
Que reflexo é este que não vês
Meditas na transparência dos elementos
Respiras e acalma os sentimentos
Pois saiba que esta luz que te encaminha
São teus olhos que ainda não pude ver

Edman
01/11/07 É assim que expresso meus insights, ótimo final de semana